#3 - I'm not like other books
- Daniela Martinho

- 29 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de ago.
Vou escrever um livro, mas não sei como.
Gosto de namorar livros.
Sempre o fiz. I'm a serial book reader.
Ler é como namorar, e eu prefiro passar a minha vida apaixonada.
Mas, como muitos escritores solitários, partilho um medo comum que nos assombra, mesmo após a publicação dos nossos livros: o receio de que o nosso livro não seja lido. Ou, melhor dizendo, de que fique tão escondido que desapareça para sempre, sem que alguém saiba onde o encontrar, como um amor não correspondido.
Tenho refletido sobre uma solução para enfrentar esta inquietação, e decidi partilhar a minha experiência enquanto cliente assídua de livrarias, em vez do que como uma autora iniciante.
Para mim, as livrarias são lugares de descoberta e esperança, onde os livros podem ganhar vida. É o encontro pelo qual tanto esperamos. Pensamos nele constantemente. Vestimo-nos a rigor, saímos de casa entusiasmadas, e aguardamos com expetativa o momento de mergulhar naquele universo .
Por isso, aqui deixo o relato dos meus encontros com as livrarias.
Quando entro numa livraria, o que é que eu faço?
Suspense.
Não, não coloco os meus livros na frente dos outros, como qualquer escritor com dois dedos testa faria. Não tenho esse atrevimento.
Geralmente, não peço ajuda às assistentes. Prefiro percorrer os corredores de forma independente, na busca pelo que procuro. Muitas vezes, nem sei ao certo o que quero (será que alguém sabe?); sigo apenas um instinto, uma voz da minha cabeça.
Dirijo-me às estantes clássicas e fico deslumbrada durante longos minutos, talvez horas, com uma alarmante dor de pescoço ao tentar decorar todos os nomes ali escritos.
Nesse momento, decido arriscar e dar o primeiro passo. Movo-me até à união dos livros encaixados uns nos outros, às vezes tão apertados que parece impossível retirá-los sem esforço. Tento forçar uma brecha entre a cavidade da prisão de papel. E, então, nessa proximidade, os livros parecem gritar, em silêncio:
— Pick Me! Pick Me! Pick Me!
Após uma árdua batalha, retiro um livro ao acaso, e o seguinte, e ainda o terceiro, e coloco-os numa mesa ao lado. Então, começo a ler os títulos dos que estão atrás das prateleiras. Lembro-me do conselho da minha mãe, de nunca retirar a primeira embalagem à nossa frente no supermercado, preferindo sempre as de trás. Pois bem, obrigada, mãe, por ensinares tão bem a tua filha. É isso que faço nas livrarias. Às vezes, aquilo que está à nossa frente não é realmente o que procuramos. E posso afirmar que, muitas vezes, os livros escondidos são exatamente aqueles que procuro. São os livros que, por receio de verem a luz do dia, permanecem ocultos, esquecidos na sombra das prateleiras. Mas, quando os encontro e o seguro nas mãos, eles ganham vida. E aí, tudo muda. São várias as vezes que partilhamos uns felizes para sempre.
Porém, a vida nem sempre é um mar de rosas. Outras vezes, ela prega-nos partidas e, ao abrir a capa, percebo que não é bem o que esperava. Afinal, o não é sempre garantido. Aqui vem o momento de vergonha e embaraço, quando tento colocá-lo de novo na prateleira, naquele buraco fino e apertado, enquanto todos os outros livros me criticam silenciosamente. Das duas uma: ou deixo-o em cima da mesa ou levo-o para casa. Escusado será dizer que muitos deles chegaram ao seu destino final — a minha estante.
E assim, sigo, entre prateleiras e segredos, na esperança de que um dia algum livro meu também se esconda com tanto orgulho que ninguém o encontre — salvo eu, claro.
E, no final, o mais importante é que, entre tantos livros e histórias, ainda há esperança de encontrar aquele que conquistará o meu coração — ou pelo menos, a minha estante.



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