Por trás das páginas — Quem sou eu?
- Daniela Martinho

- 31 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de set.
Há algum tempo decidi reescrever o meu futuro e tentar esquecer o percurso que trilhei até aqui.
Contudo, essa é, sem dúvida, a parte mais importante: o caminho percorrido, os seus obstáculos e as suas conquistas.
Vamos lá, recuar ao princípio.
A escrita começou bem cedo. A escrita mais elaborada veio só mais tarde. Quando era pequena, criei um pequeno livro, feito à mão, com desenhos meus e recortes de revistas, que se chamava "O meu livro de profissões".
Na minha cabeça, não fazia sentido limitar-me a uma única capacidade ao longo da vida; podia ser múltipla.
Às segundas, veterinária; às terças, trabalhava numa biblioteca; às quartas, dedicava-me à pintura; às quintas, escrevia para jornais Assim, tinha imaginado a minha carreira com uma carga horária de quatro dias, e três dias de descanso. Num mundo em que podemos ser tudo — por onde começaríamos por decidir?
Foi na quebra da inocência em transição para adolescência, que esses planos mudaram. Antes de terminar o ensino básico, a escola ofereceu-nos a hipótese de realizar um teste de aptidões para tentar perceber em que área nos encaixávamos. Foi com surpresa e um certo choque que recebi a sugestão: "Forças de seguranças". Baseada talvez na confiança daquele teste, e porque na minha família tinha pessoas que integram esse ramo, decidi, no último ano do secundário, candidatar-me às forças policiais. Treinei durante um ano, adaptei uma nova atitude e estilo de vida, e tornei-me outra pessoa. Vivi o sonho de outra pessoa. Foi na última prova dos exames físicos — a corrida de mil metros em volta do Estádio de Jamor, que a realidade começou a transparecer. Eu nem gostava de correr. O que estava ali fazer? E, pior — quem era eu, afinal?
As provas anteriores tinham sido um sucesso, mas, como é habitual, a mente prega-nos partidas. Foi durante essa prova, que a minha mente atraiçou-me, ao ver a ser ultrapassada por outras concorrentes. O resultado foi um chumbo por quatro segundos.
Aqueles quatro segundos, praguejados pela minha mãe e chorados por mim, mais tarde tornaram-se a minha salvação — a minha fuga.
Porém, ainda estava longe do objetivo final. Cometi outro erro.
Dado a ter carregado as minhas esperanças nessas prova, a entrada na faculdade passou a ser a segunda alternativa. Escolhi um curso que me permitisse ganhar dinheiro. E foi assim, que tirei um curso de solicitadoria, durante um ano.
Posteriormente, ingressei nos estudos em Linguística, e posteriormente, na especialização em ensino de Português como Língua Não Materna. Porém, no meio de trocas e desilusões, a vida deu-me outra virada: farta de passar a maior parte da vida a estudar, decidi colocar a dissertação como plano de fundo e ganhar experiência no mercado de trabalho. Trabalhei em várias áreas, desempenhei vários cargos, realizei tarefas distintas — desde realizar trocos numa caixa registadora até coordenar o stock de sapatos, até, atender telefones e fazer check-ins.
Foi no último cargo, num dos poucos momentos livres que tinha, que percebi que, apesar do conhecimento adquirido em universidades e da experiência acumulada em diversos setores, faltava-me algo que me proporcionasse a verdadeira satisfação e realização pessoal — algo que preenchesse aquele vazio que carregava comigo para onde quer que fosse.
Foi então que me lembrei do meu antigo sonho: o livro de profissões.
E foi nesse momento que escrevi o meu primeiro manuscrito de poesia. Hesitei. Voltei a abri o e-mail dezenas de vezes, com receio, com medo.
Por fim, cliquei em "enviar".
O resto, como dizem, é história.




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